The Brilliance é do tipo de banda que não dá para colocar numa caixinha de gênero musical. Mesmo situando-se dentro da música cristã contemporânea, podemos considerá-la à margem do que se convenciona para o estilo. Desde For Our Children (2014) já dava para perceber que eles eram diferenciados. Brother (2015), que aumentou o holofote sobre a dupla, é uma obra que necessita de ouvidos mais sensíveis para apreciar todas as nuances propostas ali.

Interpretação massa feita para a canção Brother, do disco de 2015.

Uma das coisas mais difíceis para um artista cristão é se sentir encaixotado pela linguagem e, por isso, eles sentem que têm apenas uma paleta limitada com a qual podem experimentar, uma tela limitada com a qual podem pintar ou uma linguagem limitada. para falar. A beleza transcende muitas das paredes que criamos com a nossa linguagem.

David Gungor

Seguindo a discografia, All Is Not Lost, de 2017, nos aprofunda mais na mente e nos sentimentos de David Gungor e John Arndt. Quebrantamento e reconciliação dão o tom das faixas desse trabalho que, segundo a crítica da época, fez o álbum “sair das paredes da igreja e entrar nas feridas do mundo”.

David Gungor e John Arndt são amigos de longa data e compartilham do sentimento por uma música cristã relevante e criativa

A inspiração da dupla ainda reservava mais para nós, eis que Suite Nº 1: Oh Dreamer (2018) foi lançado. Da faixa introdutória, já era definitivo que não se tratava de mais um CCM, mas de um mergulho profundo nas dores do nosso tempo. Diferente do generalismo tão comum no estilo, aqui temos uma poética sobre medos e esperanças. O duo conta que o disco surgiu a partir do desafio feito por um amigo em uma mesa de bar: “Que tipo de música vocês fariam se pudessem?”. Eles responderam: “Queremos criar arte que inspire empatia”.

Ao dar liberdade à criatividade, os músicos foram atrás de histórias de vida de pessoas que estavam enfrentavam nosso “futuro incerto”. Assim, nasceu a suíte Dreamer. Com referências do que se entende por música clássica, o primeiro álbum tem um tom suave e dramático, em especial, nos sonhos de Valte, Ludwig e Lilly. Como dito, medo e esperança se intercalam nas linhas das canções.

Quase dois anos depois, chega a segunda suíte com o longo título World Keeps Spinning: An Antidote to Modern Anxiety (2020), dando continuidade ao drama anterior. No entanto, mesmo falando sobre fragilidades, não há espaço aqui para pessimismo. Centrada na necessidade que temos uns dos outros, essa suíte traz as vozes do Biola University Orchestra and Chorus que eleva o trabalho para outro patamar. Para as canções, Bach, Stravinsky e até The Beatles serviram como referência (para essa última, basta ouvir a faixa-título). Essa mistura entre estilos, entre passado e presente, dialoga bem com a ideia do disco: a ansiedade. Quem convive com esse sentimento, sabe bem o que é viver em uma montanha-russa.

The Brilliance – World Keeps Spinning: An Antidote to Modern Anxiety, foi lançado em 10 de janeiro de 2020, de forma independente.

Valorizo muito bandas que olham para o mundo, pois suas canções são contextualizadas com a realidade e se fazem relevantes aos ouvidos de quem as escutam. Faixas como “Facebook”, por exemplo, mostram bem essa situação ao criticar o mundo de heróis que temos nas redes sociais. “Estamos todos procurando alguém para salvar. Estávamos esperando alguém para nos salvar. Mas eles nunca vieram, nunca vieram.”, canta The Brilliance. A crítica tão pertinente nessa era de tantas farsas digitais, provoca a reflexão se os “heróis” do nosso tempo fazem isso para alimentar seus egos ou seria uma suposta necessidade de aprovação? E quem está do outro lado? Os seguidores querem preencher qual vazio?

No entanto, esse tipo de posicionamento do grupo é desafiador do ponto de vista da base de fãs. Enquanto alguns vão admirar a postura por ampliar a abordagem temática, outros vão olhar com estranheza e até questionar a fé por não estar abordando diretamente sobre Deus e os assuntos da espiritualidade. Essa é uma situação inevitável, mas que com essa suíte, irá se acentuar ainda mais.

Enfim, se você ainda não conhece a discografia da The Brilliance, reserve um tempo para apreciar, desbravar as entrelinhas de tantas histórias e, principalmente, amar o seu próximo.

Sobre o Autor

Modernizar o passado é uma evolução musical.

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