Leave What’s Lost Behind veio pra quebrar inúmeras expectativas que tínhamos com relação ao quarteto do Tennessee, mais conhecido como Colony House por aqui. Mas o surpreendente de tudo é que essas expectativas eram, na verdade, realistas. Por que começamos por aqui dizendo que sim, Leave What’s Lost Behind é um baita de um projeto.

Costumamos colocar em ordem, dos trabalhos lançados da banda, qual que poderia ser considerado o melhor. Não podemos tirar o crédito e o impacto que When I Was Younger causou quando ele surgiu em 2014. Acredito que todos precisavam daquele álbum. Mas hoje vamos falar sobre LWLB, pois eu e você precisamos dele também (e talvez também precisemos da jaqueta customizada da capa do disco).

A primeira faixa nos apresenta “Looking For Some Light”. A canção é poderosa, boa logo na primeira ouvida e traz aquele Colony House que tanto gostamos: reflexivo, ousado e convidativo. A música cresce com maestria nos minutos finais e traz , talvez, a melhor mensagem do álbum: “cante como um soldado, não, ainda não acabou. Todos procuram pela luz”. Lançada ano passado como sendo o primeiro single, a única decepção aqui fica na responsabilidade de não terem transformado o Lyric Video em Clipe Oficial.

A primeira mini faixa das três Runaway, “Runaway Pt.1 (Love Has a Limit)”, é a minha favorita em seu curto dedilhado. Mesmo trazendo uma versão materializada de que o amor não pode perdoar tudo (oi?), ela é a minha favoritas das três mini, pois prepara um terreno muito inteligente pra próxima canção. Lembrando que esses pequenos “samples” são uma marca registrada da banda.

Iniciando com a bateria interessante do Will Chapman, a faixa título, “Leave What’s Lost Behind”, é a controvérsia em sua melhor definição. Aqui temos uma bela homenagem ao som mais indie e os vocais contidos, exatamente quando CH ainda era Caleb, e ao mesmo tempo à influência U2 que vimos no álbum passado com a quinta canção, “Where Your Father’s Been”. Saudosismo, influência e identidade. É tipico dizer que a pior parte da música é quando ela acaba.

“Original Material” é uma música para cantar junto. A faixa lembra maravilhosamente os primeiros dias da cena indie rock, enquanto ainda traz um som novo à cena musical de Nashville. O Colony House criou definitivamente um hino indie rock com “Material Original” que qualquer um pode apreciar – completo com guitarras limpas, efeitos vocais simples e harmonias. Os versos são letras coloridas e criativas, e o refrão é incrivelmente cativante; a diversão nunca termina em “Original Material”! (e ainda temos de quebra um vídeo hilário)

“El Capitan” é divertida e talvez a mais diferenciada do álbum, ao lado de “Original Material” e “Julia” (sem classificação). A sutil pegada aos moldes Cage The Elephant, com a linha de baixo e bateria ridiculamente alinhadas, com uma leve inclinação aos indie roads songs do início dos anos 2000 me conquistou de cara. Arrisco dizer que é uma letra bem aleatória com a proposta do álbum, mas quem nunca quis subir a formação rochosa mais perigosa da Califórnia pra provar o seu amor, não é mesmo? El Capitan (a formação rochosa) já ganhou até Óscar, mas essa divagação deixa para outro dia.

Existe uma teoria pessoal que diz que sempre irei flertar muito com a quinta faixa de cada álbum do Colony House, vide “Roll With Punches” e “Where Your Father’s Been” dos compilados anteriores. “Why Even Try” não é minha favorita, mas ela tem uma das mensagens mais esperançosas e encorajadoras do álbum. Nela podemos ver o Colony House que a gente tanta gosta e comprova que a entrada do Parke foi uma grande adição pro outrora trio, agora quarteto, de indie rock. A mudança na assinatura do tempo foi um toque agradável e as harmonias foram tão nítidas e incríveis que não fazia sentido ouvir apenas uma vez. Mais uma vez, eles têm essa bela construção em sua ponte e permanece fiel ao fato de que não há como ouvir esse álbum e não sentir nada. O mesmo pode ser dito de “Runaway Pt. 2 (Love is a Compass). ”

“Where I’m From” começa com o estalar firme dos dedos antes de abrir um riff de piano elétrico. Com um registro suave e ressonante, o vocalista Caleb Chapman canta “o cheiro do cedro” e “o calor do fogo”, lembrando-nos as coisas simples de onde viemos. A música como um todo é de natureza simples, incorporando apenas alguns elementos musicais e mantendo a melodia bastante modesta, mas sua simplicidade combina bem com as letras suaves e cria uma impressionante sensação de paz. “Where I’m From” oferece sinceridade e liberdade vulneráveis ao desempenhar um pequeno papel em uma imagem maior.

Colony House em apresentação de divulgação de Leave What’s Lost Behind

Lembrando muito a versão Colony House do segundo disco, que apostava em melodias mais vintages e animadas, “Take It Slow” incrivelmente não é o que esperávamos depois da balada da sua música antecessora, mas a construção da disposição das canções em Leave What’s Lost Behind a torna em um enérgico hino que sempre nos recorda que estamos em uma luta pelas nossas vidas. O que dizer da quebra de ritmo ao fim da música com sintetizadores? Tocantins inteiro pra vocês, meus amigos.

Eu simplesmente amo a junção guitarra sulista distorcida com o violino de “Julia” (nome que me persegue, tem três na minha querida mocidade). Ela tem um “Qzão” de música antiga e soa bem diferente do que o Colony House tem feito até aqui. Mas o efeito foi positivo. A pergunta que fica é: o tempo que eles passaram em tour com o Switchfoot instigou em nome de faixas com nome feminino?

“Trying” provavelmente será minha identificação pelo resto do ano. Talvez pelo fato de que esse vos fala completar 27 anos (ditos na música) em 2020 e também pela incrível construção da melodia, com início intimista, a quase ausência de um refrão e forte reflexão sobre o que é ser humano: ser humano é tentar, é se desapontar, é querer a verdade e, de forma concomitante, ter uma graça que se faz presente a cada manhã. Acredito que ela é minha número 1.

Com relação à última das minis, “Runaway Pt.3 (The Weight)” eu só tenho algo a declarar: Mas quem diachos é Mrs. Porter?

Fechando a tracklist do álbum com “The Hope Inside”, ela funciona como a “Moving Foward” desse trabalho. Não é uma balada, mas ao mesmo tempo não é uma canção dançante de indie rock. Uma mensagem cristã de forma sutil, que combina com os filhos do Steven Curtis Chapman e CIA. Confesso que fiquei surpreso com a presença de um vocal feminino mais ao término da canção, mas ficou bem interessante essa inclusão. E também posso dizer que “The Hope Inside” fecha com maestria esse trabalho de 13 desabafos, podemos dizer assim, que compõe Leave What’s Lost Behind.

Podemos concluir que esse é um saldo muito positivo. Ele, logo de cara, se apresenta muito mais construído e entrosado que Only The Lonely, com inovações muito identitárias e com uma excelente disposição das canções, trazendo um ritmo coerente e tornando-se um álbum pra escutar do início ao fim sem pular nenhuma.

Aguardamos em 2023 um novo projeto e ansiosos pra comentar mais uma vez. Como eu gosto de dizer: Colony House é banda mais “mainstream” do meio “underground”, que todos gostam.

P.S: Essa matéria foi escrita em conjunta com o nosso mineiro Pringles. Segue a relação das opiniões:

Gans: Looking For Some Light; Runaway Pt.1 (Love Has a Limit); Leave What’s Lost Behind; El Capitan; metade de Why Even Try; Julia; Trying; Runaway Pt.3 (The Weigth) e The Hope Inside.

Pringles: Original Material; Where I’m From; metade de Why Even Try e Runaway Pt.2 (Love is a Compass).

 

 

 

 

 

REVIEW: Colony House - Leave What's Lost Behind
Só perde pra When I Was Younger por causa da criança ruivinha da capa.
Originalidade100%
Capa70%
Letras80%
Refrão Chiclete70%
Chegou Perto do Céu80%
Clipes90%
82%Pontuação Geral
Avaliação do Público: (2 Votar)
81%