Valeu muito a pena esperar 3 anos

Depois de 3 anos de espera do público, Lorena entrega não um disco, mas um EP. Para um tempo tão agitado e rápido, 18 minutos é praticamente um intervalo de comercial. Um trabalho tão breve pode até frustrar quem esperava um álbum completo, mas ele pode trazer outra perspectiva se pararmos para pensar melhor.

Lorena vai de encontro ao ritmo dos dias de hoje. Quem a acompanha nas redes sociais, vê as descobertas da vida a dois e os desafios do ser adulto com uma honestidade bem peculiar. No entanto, uma coisa é permanente na sua vida e obra: a leveza. Admiro bastante a trajetória dela e vejo com a fé é diluída na sua vida. O coração pode muitas vezes ser ansioso, mas nas velhas verdades do Evangelho ele encontra refúgio. E nessa descoberta do que é viver, Petricor se mostra.

Petricor significa: aroma que a chuva provoca ao cair em solo seco, e foi o que senti enquanto escrevia cada faixa. O álbum tem um ar reflexivo e leve ao mesmo tempo, e está mais maduro em todos os aspectos.

De maneira orgânica ele surge, sem a lógica de mercado, sem frases prontas, sem generalismo. Nele, a vida é vista de forma completa. Relações humanas, diversão, reflexões da vida… tudo em apenas 18min. A brevidade do disco é inversamente proporcional à sua profundidade. Em cada letra, mostra a digestão de experiências de maneira poética. E a sonoridade acompanha o ritmo. Sem perder tempo com rótulos, ele é simples, mas sofisticado. É maduro em todos os seus aspectos. Entra leve nos ouvidos, como uma brisa, como o encontro do mar com a areia da praia. Nesse toque delicado, deixa sua marca, cativa o coração e aquece a alma.

Apesar dessa good vibe, Petricor começa com um tapa na cara. “Amor, é coisa pra gente madura. Você já devia saber”, cantando sorrindo e com uma sonoridade alegre, Lorena faz uma crítica pesada à imaturidade das relações amorosas dos nossos dias. Carrossel deve ser fruto da vida pós-casada e/ou de um olhar mais profundo sobre o afeto hoje. Afinal, dificilmente amor é o que vemos por aí.

Monocromia nos convida a ver a vida com outros olhos. Traçando uma metáfora entre dias nublados e os problemas que enfrentamos, Lorena canta que “tem coisa na vida da gente que só se entende quando o tempo fecha”. Há beleza e propósito em tudo. Na fé, essa percepção é alcançada quando lembramos que Ele é soberano sobre todos os dias e climas, pois mesmo que nossos olhos não vejam sentido na monocromia, sua graça é suficiente para nos dar sentido em tudo.

Com um baixo marcante, Orquídea continua a sofisticação musical envolvente. Navegando em leveza, Lorena traz mais reflexões oriundas da observação do mundo: “Se não tiver tua beleza dentro do meu peito, não há outro jeito de se contemplar”. Como diria Marcos Almeida em Rio Torto, “Só tenho medo quando esqueço / E a memória é tudo aquilo que nos falta/ Que o dia todo é transparência / Pra essa graça”, Lorena também nos chama a ser sensíveis para perceber o favor imerecido de Deus mesmo que seja “só um dia qualquer”.

Candidata a estar na playlist de final de ano e de muitos embalos de sábado à noite, Festa traz o talento mineiro do Gabriel Gonti. Festa se faz mais com um e o equilíbrio das vozes mostra essa sintonia muito agradável: “Eu gosto quando você chega / A gente é festa, a gente é festa”.

Terapia é a minha preferida. “Virei peixe, amor”. Poesia pura sobre fé e vida, numa balada que me trouxe Vanessa da Mata à mente, a faixa faz um paralelo entre Deus e o mar e sua capacidade terapêutica. Para quem já sentiu a paz que observar as águas do mar traz, vai se identificar com cada verso cantado aqui. Terapia é mais uma demostração de como os valores do Reino podem estar contextualizados de forma relevante, inteligente e criativa: “No teu oceano eu respiro oxigênio, feito da sua matéria”.

Fechando esse breve registro, Leve arremata todo o dito até aqui. Em menos de 3min, fica o aprendizado que “a vida é leve se é você quem leva”, seguido com um encantador dueto de guitarra e teclado. Uma verdadeira preciosidade.

Petricor é disco para a vida. De pôr no modo repetir, para aprecia-lo sem pressa, deixando cada nota e verso acalentarem a alma.