No dia 12 de fevereiro desse 2020 2.0, tivemos o lançamento oficial de Departures, disco solo de uns dos melhores seres humanos vivos atualmente, o vocalista da banda de rock alternativo Switchfoot: Jonathan Foreman, ou Jon Foreman.

Sou suspeito pra falar, mas também já esgotei meu arsenal de quantas vezes disse que sou suspeito pra falar, então vamos apenas aos fatos: Departures é o um disco excelente e não falo isso pelo Jon, pela participação da namoradinha gringa do momento, Lauren Daigle, e nem pelo sub-feat. com a talentosa “mamãe, quero ser a Joni Mitchell do gospel”, Madison Cunningham. Eu digo isso porque o álbum tem vida, expressa mensagem, conversa com você nas entrelinhas e por esse motivo, numa tarde chuvosa de maio, eu resolvo fazer esse Diário de Audição.

E como todos sabem, eu não gosto de seguir uma análise linear e não gosto de tornar as coisas muito extensas. Ouvi dizer que minha personalidade é 35% por cento música. Será que se eu tocasse algum instrumento ela pularia pra 50%? Não sei, e expressamente falando, eu gosto da pegada fundamentalista e empírica que vos escrevo. “The Ocean Beyond The Sea” é uma excelente abertura pra esse trabalho de 12 canções. Poderosamente ela cresce e chega aos momentos finais com a sensação de convite, de aceitação de jornada e esbanja da instrumentalidade que, em outros trabalhos do Jon, eu enxergava mais contido. Os violinos são um show à parte.

“Education” é a representatividade da vida que é vivida quando se ama. Foi o primeiro single de trabalho, lançado anteriormente nas plataformas e não poderia ter sido outro. Adoro a bateria e adoro a fonte que foi bebida da Fiction Family, antigo trabalho do Jon Foreman como duo. Já “Side by Side” é linda, uma música pra todos os momentos, mas é um desperdício quando não aproveita o calibre de uma vocalista como a Madison. Ela cantando apenas algumas partes do refrão me desanimou, embora seja uma canção que eu não pule pela magnitude da simplicidade que ela imprime. Ainda bem que esse “erro” foi corrigido nos vídeos acústicos onde vemos Cunningham cantando mais partes.

Sobre “A Place Called Earth” não escreverei nada. Apenas escute:

Departures segue trazendo “Red and Gold” e aqui vai uma consideração minha curiosa: vejo inúmeros “encaixes” que poderiam acontecer aqui. Esta última citada seria uma excelente canção de Hello Hurricane (álbum do Switchfoot lançado em 2011), principalmente as últimas do disco que trazem virtuosidade e liberdade para quem as escuta. O solinho meio blues é maravilhoso, aliás. Já falando de “Jesus, I Have My Doubts”, enxergo a oração da vez do Jon Foreman, algo que ele começou na década passada com sua primeira leva de EP’s com a maravilhosa “Your Love is Strong”. Orações em forma de canção sempre foram um atrativo especial pra mim.

Pulando as faixas, levo você a escutar “Weight of The World”, com uma melodia meticulosamente tranquila e sem muitas firulas na voz do Foreman, tal feito que nos lembra diretamente as faixas do cristocêntrico New Way to Be Human, disco de início de carreira do Switch que fez 20 anos no ano retrasado enquanto a banda era apenas um trio.

Voltando à ordem natural das canções, “Thanks to Be God” é uma canção que cresce pouco no instrumental, mas tem sua energia e valor dentro das mensagens que estão sendo difundidas pelo álbum. O tom melodramático, que abusa da percussão pra mostrar a força da melodia no melhor estilo The Lumineers, em contraste com a voz vivaz do Jon, tornam ela uma das minhas favoritas em Departures. Soa até engraçado eu pontuar o termo ‘melodramático’, pois ao seguir “The Gift”, que tem zero instrumentos de percussão, encontramos um folk intimista genuíno e bonito liricamente, mas que talvez tenha quebrado um pouco o ritmo da ambientação. Enfim, apenas uma neura que o que vos fala tem com distribuição de faixas.

“Love is The Rebel Song” é divertida e o flerte com o folk country cai bem aqui, desde o início meio caixa acústica até o violão que permeia toda a canção. Praqueles, de grosso modo, que preferem as canções mais ‘agitadinhas’ ao melhor estilo Sheppard, essa é uma boa pedida. 

Estamos chegando ao fim do que começou alguns minutos atrás.

Não poderíamos ter impressão melhor ao apreciar uma marchinha fanfarrista pra contar uma história sobre valores de quem e do que está ao seu lado, como é o caso de “The Valley of The Shadow of Planned Obsolescence”. Tio Jon nem precisava de muita coisa, me ganhou com o assovio e quando citou Justin Timberlake na letra.

E ao finalizar esse diário, temos “Last Words” que soa muito mais do que um trocadilho, mas uma música com um Q de canção urbana que pode parecer enigmática e traz leves sintetizações no seu fim, mas como uma sagaz reflexão que você não vai entender de primeira. Sugiro que escute mais de uma vez.

Finalizo aqui, repetidamente dizendo o nome Departures e afirmando com certeza que é o melhor trabalho solo do Jon em anos.