Eu já perdi as contas de quantas vezes iniciei escrever sobre Canções Peregrinas e pausei, não sei por qual motivo. Por isso, de certa forma, não chamarei isso de Review, categorizarei num Diário de Audição, que se comporta como uma resenha bem pessoal e bem tangencial naquilo que cada um se propõe a escrever por aqui.

Eu poderia parar por aqui mesmo com “Canção de Agostinho” que é, sem sombra de dúvidas, uma das canções mais confortantes e confrontantes que escutei em minha reles jornada de vida. Uma sensação de pertencimento empático com a arte que Aninha produz e o Cristo que Aninha (sou íntimo) apresenta, fica evidenciado de forma tão clara, mas tentarei seguir a regra, mesmo não sendo do meu feitio e de minha maior competência explicar ou resenhar música por música.

Mas essas cinco pérolas, cada uma com seus mais de cinco minutos, traz uma Ana Heloysa contadora de história, cheia de regionalismo e riqueza cultural, que passeia com a mais singela das verdades e que proseia com os nossos anseios pessoais mais palpáveis e materializados em nossa cantiga que chamamos de vida. Chego a sentir um pouco de “inveja” com toda essa fusão evangelho-cultura nordestina que o EP nos presenteia. Em contrapartida com a minha influência totalmente metropolitana do litoral de São Paulo, é como se a melancolia da minha criação ganhasse mais cores e motivos de celebração.

Nesse momento, inclusive, escuto “Ode à Alegria” que foi o meu primeiro contato com Canções Peregrinas, e as risadas ao término da música chegam a aquecer o coração de tão naturais que soam. E sei que estou escrevendo totalmente fora de ordem, mas isso que dá forma à um Diário de Audição, ao fim. 

“O Semeador” tem o seu início como uma palavra cantada (não quis fazer jabá ou trocadilho) que nos ganha logo de cara e como todos sabem do meu pragmatismo habitual, colocaria ela como, acho, minha terceira favorita.

Tenho certeza que “Pequenez”, com seu íntimo dedilhado, vai ser uma canção que irá “loopar” em alguma fase futura da minha vida, trazendo jus a não linearidade que a música se comporta em nossas jornadas. A verdade da letra é algo tão simples e mesmo assim, tão difícil. 

E o grande trunfo, e isso falo das composições, é a simbiose que Ana Heloysa consegue trazer nas verdades bíblicas versus verdades humanas que temos aqui dentro das nossas almas. Não posso deixar de ressaltar que (talvez) a formação em psicologia auxiliou nesse espelho refletido em forma de composição.

Pra fechar esse diário, “Primeiro” é poesia pura. Um diálogo muito bem convertido em forma de canção. A presença de João Manô com seu sotaque inconfundível é muito interessante, comprovando a inteligência musical de Aninha e em como a voz da potiguar é ótima para duetos. Sem contar o caxixi e o triângulo que são um charme por aqui.

Pois é, prometi e não cumpri. Talvez eu tenha transformado isso num tardio review.

Não era a intenção, mas Ana Heloysa é um importante e NECESSÁRIO nome para o canto com sotaque, para a difusão do evangelho sem importação e euzinho, desde “O Caminho e Guia”, decidi acompanhar essa moça por onde a vela for soprando.

Aninha faz parte do Coletivo Candiero, saiba mais clicando aqui. Até o próximo diário!