Tivemos o privilégio de entrevistar Stênio Marcius, um dos grandes nomes da música cristã brasileira. Em nossa conversa pudemos conhecer um pouco sobre seu processo criativo, parcerias e impressões sobre fé, música e mundo. Confira e apoie esse artista incrível!

Entrevista com Stênio Marcius

Apenas Música: Entre canções, poesias e pastoreios, você traz uma trajetória de vida inspiradora. Diante de tantas experiências marcantes, como o Stênio Marcius de hoje se vê? 

Stênio Marcius: Irmãos, vida inspiradora é a de Cristo. Não sou nada além de servo da Igreja e dEle. Não tenho outra posição senão aos pés dEle, continuo um pecador salvo pela graça.

AM: O Tapeceiro é, sem dúvida, uma das maiores preciosidades da música cristã brasileira e interpretada por muitos artistas. Conta um pouco para gente sobre como é fazer parte de uma geração legionária ao lado de João Alexandre, Gerson Borges, Silvestre Kuhlmann e tantos outros talentosos nomes.

Stênio: Bem, o João foi o primeiro a colocar o pé na estrada com uma proposta de viver unicamente da música e me deu a honra de gravar várias composições minhas, inclusive “O Tapeceiro”. Até hoje acho que ele é um dos melhores. Silvestre foi um parceiro de algumas canções e um músico que, até hoje, me emociona com suas composições. Tenho uma experiência muito marcante com o CD “O Filho Pródigo“, do Gerson. São companheiros do Evangelho.

AM: Esse tema nos faz lembrar como a música exerce uma forte influência na espiritualidade dos cristãos. Muito do que se é cantado acaba refletindo ou molda a crença seja ela biblicamente correta ou não. Como músico, como você vê a responsabilidade sobre suas composições na vida dos seus ouvintes?

Stênio: Esse ponto faz parte essencial da nossa palestra sobre Música e Teologia/Culto Cristão. A música interfere no pensamento ao ponto de  transferir as emoções em ações. Para alguns, a música convence de quase tudo. Ela fixa ideias e diz muito sobre a espiritualidade da alma. Você é o que você ouve. Temos falado muito sobre isso no Brasil por onde vamos. O coração é enganoso. A Palavra de Deus nos molda o caráter, por isso, para o cristão é valioso cantar a Palavra.

AM: Recentemente na minha igreja, fui surpreendido positivamente ao ouvir “Alguém Como Eu”, ainda mais ao ver a igreja cantando junto. Canções como essa não são tão convencionais nos momentos de louvor congregacional. Na sua opinião, você vê o seu tipo de música como algo mais contemplativo ao invés do coletivo?

Stênio: Olha, para uma igreja que sempre cantou os HINOS de cor e à capela, muitas vezes em quatro vozes, eu sinceramente não acredito que haja músicas difíceis para a congregação cantar. Acho isso um mito. Se eu começar a escrever aqui “Mestre o mar se revolta, as ondas nos dão pavor”, você, imediatamente em sua mente, vai completar: “O céu se reveste de trevas, não temos um salvador”. Falo isso pelo menos na perspectiva de quem foi criado numa igreja ouvindo o coral. Agora quem não foi, não sabe do que eu estou falando. Perde uma parte muito rica da nossa história musical. Será que respondi?

AM: Para nós, suas músicas parecem salmos, orações e histórias. Como ocorre seu processo criativo? Pela complexidade das composições, imaginamos que elas devem passar com uma intensa gestação. Confere?

Stênio: Rs, não confere, não. Faço as canções em algumas horas, e música e letra ao mesmo tempo. São raras as canções que não ficam prontas no mesmo dia. Isso é graça de Deus, não é nada que eu seja ou que esteja em mim.

AM: Ainda sobre composição, além do Evangelho, suas canções apontam para outras referências literárias. Quais livros já serviram de inspiração para sua obra?

Stênio: Na minha juventude li muito os poetas brasileiros como Machado de Assis e portugueses também. Hoje, sou leitor compulsivo de Teologia Reformada.

AM: Ficamos encantados com a influência de “My Favorite Things” (John Coltrane) em Palavra Poema. Que outros nomes estão na sua base musical?  

Stênio: Interessante vocês terem notado isso. Na verdade, toda honra deve ser dada ao Diego Venâncio, o arranjo é dele. Aliás, todo CD é arranjado por ele, assim como o último disco “Prelúdio para o Deus Homem“, que traz a assinatura dele e do João. Sempre gostei demais de dois musicais dos anos 70: A Noviça Rebelde e Horizonte Perdido. As trilhas me encantaram. O Diego não sabia disso e fez a citação na Palavra Poema, ao ouvir fiquei emocionado, mas foi virtuosismo do Diego. Tem outra canção no CD Esta Consumado que tem uma citação de uma musica que eu aprecio muito é “Adios  Nonino“, uma canção de Astor Piazzolla. Foi um acordeão que fez a citação. Descubra aí, rs!

AM: Para encerrar, uma opinião: em um Brasil onde a arte e a ciência está sob questionamentos, como você avalia a importância delas para a sociedade e, em especial, para a igreja brasileira?

Stênio: Bom, essa resposta seria tema para uma conferência inteira. Muito o que se falar e pensar. Isso parte da cosmovisão cristã do mundo, das ciências e das artes. Tenho estudado nos dois últimos anos sobre o tema e ainda me sinto incapaz de falar com relevância sobre o assunto. Tem gente mais preparada do que eu para falar sobre isso. Por exemplo Filipe Fontes, Guilherme de Carvalho, do L`Abri, e outros mais.

Discografia

1998: O Tapeceiro
2004: Estima
2008: Canções à meia-noite
2010: A Beleza do Rei
2011: Vida de Criança (CD/DVD)
2013: Está Consumado
2017: Prelúdio para o Deus Homem

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