Em resposta à Ricardo Alexandre em seu texto “O futuro do rock brasileiro não virá do passado”.

Certo autor resolveu falar sobre o que ele pensa do rock brasileiro. Concordo em partes com o que ele escreveu na matéria que segue no link acima, mas faltou muito nessa análise e gostaria de tecer também meus comentários.

O Brasil se orgulha de sua música. Principalmente aquela que considera “música popular brasileira”. Mas faz mais questão ainda de ressaltar que é a terra do samba, do axé, do pagode e do sertanejo. Pelo menos é assim pra grande mídia que leva ao “povão” o que será o próximo sucesso nas rádios (e na tela das TVs também). Não é de se espantar que por aqui o rock fique em segundo plano. Afinal, não é fruto de terras tupiniquins. Veio de fora, da gringa, com ares de importado. Aí fica difícil você querer que o nosso rock seja realmente rock, e não uma mistura de pop, com música “romântica” (termo que o próprio autor usa no seu texto), e um pouco de “sou rebelde”, mas nem tanto. Tudo isso pra ser mais comercial, mais ouvível pra uma massa que prefere as letras pobres e sujas do funk às letras inteligentes e sagazes do rock.

No texto, Ricardo Alexandre cita Pitty como uma das remanescentes do rock no Brasil

No texto, Ricardo Alexandre cita Pitty como uma das remanescentes do rock no Brasil

 

Quem realmente se prestou a fazer algo diferente, rock ‘n’ roll mesmo, acabou tendo vida curta. Pouco restou das bandas de rock dos anos 1970 e 1980 que chegaram ao mainstream e, nesse processo, o nosso rock ganhou suas próprias características. Não ficou muito com cara do rock americano. Anos mais tarde chegariam aqueles que são os últimos remanescentes do rock, rock mesmo. Bandas como Engenheiros do Havaí, Titãs e Ultraje a Rigor, frutos do rock pós-ditadura, tinham realmente correndo nas veias o sentimento de fazer do rock o meio para filosofar, politizar, criticar. Mas o tempo passou também pra esses caras. E durante boa parte da década de 2000, ninguém sabia fazer nada de diferente do que vinha lá de fora. Era só imitar alguma banda da MTV americana e pronto; voilà. Por muito anos tudo que o rock brasileiro sabia fazer era buscar em algo contemporâneo o meio de chegar rápido ao estrelato.

Mas eis que vieram novos tempos e gente que sabia fazer algo diferente e finalmente deixaram de lado os cabelinhos partidos sobre a testa e roupas pretas. Nem coloridas demais. Demorou, mas vieram os que buscavam outras referências.

No texto o autor cita Malta, a banda que chegou aos holofotes e atraiu a atenção de todos recentemente. Uma banda que faz um som que foge do padrão nacional, mas que lá fora já é comum há tempos (vide Chris Daughtry). Em outro texto do mesmo autor, aparecem também os caras do Suricato. Ambas vindo do mesmo Superstars da Rede Globo. Nenhuma das duas bandas traz nada de novo. E nisso sou obrigado a concordar com o autor. Mas Malta é uma banda que sim, se baseia em algo contemporâneo (e isso o autor não diz; não é o que ele reclama?). Não é rock? Bom, depende do que é rock então, afinal de contas. É o que a massa chama de rock, querendo ele ou não. Mas é claro, são dois exemplos vindos da própria mídia; a mesma que muitas vezes tenta mostrar que rock não tem vez no Brasil, inundando cada vez mais sua programação com sertanejo, axé… Porém, foram as duas bandas que valeram a pena ver no tal programa. Estaria a mídia errada sobre o que o público brasileiro realmente quer ouvir e ver?

O é engraçado que o autor do texto finaliza com um corte bem seco e para por ali análise que ele faz. E mais engraçado ainda é pensar que ele citou Brasília e São Paulo apenas como as cidades de onde deveriam estar vindo coisas boas. Pera lá! Nem de longe o nosso rock é só Brasília e São Paulo. Já foi assim no passado, na época de Legião Urbana, Capital Inicial e Os Paralamas do Sucesso. Mas há muitos outros. Jota Quest, Skank e outros surgiram em terras mineiras. Depois vieram as bandas gaúchas, e até mesmo a baiana Pitty (que ele mesmo cita como uma das últimas representantes do rock brasileiro). Hoje, vejo o som do rock nacional muito mais pautado pelo sul, principalmente por Porto Alegre, mesmo que eu não curta muito o estilo dos caras do Fresno, por exemplo. E talvez ainda um pouco de Belo Horizonte.

Se você realmente quer falar de futuro do rock brasileiro, eu te falo de Tanlan, Palavrantiga, Tópaz e outras tantas que há tempos olham para o passado para buscar referências, mas também para a atualidade, pra saber que tipo de sonoridade fazer. São contemporâneas. Aliás, mais contemporâneos, impossível. E, por sinal, não são nem de São Paulo e nem de Brasília. Tem influência de anos 1960, 1970 ou 1980? Pode até ter, mas que rock não tem? Afinal, foi nessa época que o rock se tronou tão importante.

Os gaúchos da Tanlan são prova de que tem gente fazendo algo de diferente no rock nacional

Os gaúchos da Tanlan são prova de que tem gente fazendo algo de diferente no rock nacional

 

O que falta é a indústria musical parar de olhar para os chavões da mídia, e olhar pra quem tá no underground, nas garagens. Tem muita gente fazendo algo olhando pro futuro, só que ninguém olha pra eles. Tem muita coisa de qualidade sendo feita em território brasileiro. Tem muita coisa por aqui que não é meramente cópia de astros do rock dos anos 1970, mas também não é só imitação o que tá rolando na mídia lá fora. E muitas dessas bandas simplesmente desaparece por falta de apoio. Por falta de chances de aparecer.

Fora da mídia tem muita coisa rolando e só os poucos que procuram, acham. O YouTube é, de verdade, o lugar pra se achar coisas interessantes e novas. Talvez, procurando um pouco mais, dá pra achar também no Palco MP3. Muito do que eu escuto de rock nacional veio de lá. Tem muito rock sendo feito aqui com boa produção, boas letras, boas referências de qualquer tempo e com excelente perspectiva de futuro. É só parar de querer buscar nos holofotes da mídia, onde eles não estão.

Sobre o Autor

Designer, fotógrafo, metido a escritor, amante de (boa) música, internet heavy user e blogueiro amador, mineiro, cruzeirense, cristão. Praticamente só ouve rock, quase sempre internacional. Ouve música quase o tempo todo em que está acordado e, às vezes, quando está dormindo também. Tocador de violão, baterista e cantor meia boca nas horas vagas.

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