Petrolina, 28 de fevereiro de 2018

Rescuer (Good News) é talvez o álbum que eu mais aguardei do Rend Collective. Eu ainda estava ruminado o “As Family We Go”  quando a banda começou a tweetar sobre o um novo álbum fiquei eufórica.

Ok. Eu sei que você vai me perguntar por que só agora estou falando se estava tão ansiosa e o álbum foi lançado em janeiro. A razão é simples: eu queria viver o álbum. Cada canção, ir ouvindo devagar, dançando sozinha, lembrando de verdades eternas. Para isso tomei um cuidado básico: não li nada sobre o álbum além dos tweets da própria banda. Não sei se as pessoas gostaram ou detestaram. Até ouvi um: “você está sabendo de um rumor de problema na banda?” Saí correndo fugida pois não queria ser influenciada por nada que não fossem as letras ou a sonoridade. Isto aqui é um diário de audição e vou relatar minha experiência com o álbum só e apenas. Mas como nunca falei do Rend Collective aqui penso que é um bom começo. Vamos lá!

Penso que há criatividade, leveza e mil delicadezas que o céu nos presenteia todos os dias. E para minha sorte tenho encontrado alguns exemplos de toda a graça e poesia que o céu pode proporcionar. Rend Collective é um deles.

Num mundo onde as pessoas cantam o que não vivem, é bom encontrar focos de resistência, em que alguns vão tendo experiências com Deus e tornando isso melodia, isso é refrescante na caminhada cristã. Ver que se alguns sofrem fazem poesia. E se riem fazem poesia. E se tem um contato mais íntimo com Deus fazem poesia.

Esse coletivo irlandês em poucos dias conquistou meu coração. Membros de uma igreja  no norte da Irlanda esses rapazes e essa moça envolvidos em processo de comunhão com Deus e com sua comunidade acabaram tendo em mãos e em vozes,  canções diferentes que falavam da vida cristã com suas trajetórias na busca para entender a fé, Deus e Sua vontade em nossa relação à comunidade, nascendo assim o Rend Collective Experience (para nossa alegria!).

Duas  palavras  me vem à mente quando penso em Rend: imaginação e alegria. O Coletivo não tem o menor receio de brincar, de usar instrumentos pouco comuns e de fazer um indie-folk  cheio de delicadezas. Segundo eles a proposta do coletivo é “forçar os limites, porque o nosso Deus não é cômodo ou pequeno: Ele tem uma imaginação fértil.” E a imaginação fértil de Deus se reflete no trabalho maravilhoso, audacioso e inusitado desses irlandeses.

As canções são uma oração sincera e simples de gente que espera ser cristã a partir das noções de graça e misericórdia. A produção de cada álbum merece um filme. Um dos álbuns, o Campifire foi gravado com um grupo de pessoas em torno de uma fogueira na praia. A ideia do coletivo é afirmar que as pessoas e suas histórias são mais importantes que qualquer coisa no mundo. Tudo é autoral e tem um forte senso poético. Até o título dos álbuns reflete o jeito collective de ser.

Eles parecem uma família barulhenta, colorida e muito acolhedora. Eles afirmam que vieram ao mundo fazer uma celebração do amor de Deus. E é isso que fazem. Celebram. E a gente sente junto a alegria de cada acorde. O fato de usarem banjo e outras peculiaridades só aumenta o fascínio.

Desde que conheci a banda me apeguei. E nisso lá se vão quatro álbuns. “Homemade Worship by Handmade People” e  “The Art Celebration” para mim são os álbuns mais queridos com canções que ouço toda semana se possível, e minha expectativa era que Good News se igualasse a esses dois.

Definitivamente desconheço o processo de criação que gerou as músicas existentes em Good News mas sou agradecida por esse processo por que a banda retornou à verdades fundamentais do cristianismo com sua inconfundível alegria.

Counting Every Blessing é para mim um dos trunfos desse álbum. Uma canção como as boas e antigas canções cristãs que lembram as bençãos que são inumeráveis. De janeiro para cá esta canção tem funcionado como oração e lembrete para mim de que Deus é bom em todas as estações.

I was lost, now I’m found by the Father.
I’ve been changed from a ruin to treasure.
I’ve been given a hope and a future.
I’ve been blessed beyond all measure.

Quando I Will Be Undignified toca os primeiros acordes, a minha vontade é dançar uma daquelas danças escocesas antigas. De cara somos convidados a dançar como Davi dançou (sim, a pegada é bem se o Espirito de Deus se move em mim…), sou lembrada de que só tenho motivos para dançar: fui dignificada, vivo um amor que não pode ser domesticado nem compreendido e  liberdade total. Há um trecho específico que declara: minha alma não foi feita para viver numa jaula.

A vontade de dançar aumenta por que além da melodia a letra aquece o coração. Ouvindo essa música lembrei de  Nietzsche e sua verdadeira afirmação de “só poderia crer num Deus que soubesse dançar.” Suspeito que como eu Deus dançou bastante enquanto colocava I Will Be Undignified no coração dos moços e moça do Rend Collective.

No livro o Silmarillion, Tolkien conta que no começo era a música e ela saía do coração de Eru para seus súditos e cada um executava uma parte da música mas apenas Eru conhecia toda a música. Esse texto é uma alegoria do céu. Quando ouvi Hymn Of The Ages a primeira vez imaginei esse texto. O começo e o fim de todas as coisas e em eternidade a canção dEle fluindo sem parar jamais.

Hymn Of The Ages fala que toda a história e todas as eras da terra devem se curvar ao Trono eterno e adorá-lo. É uma bela canção que nos lembra os primeiros capítulos de Apocalipse descrevendo a epifania do trono. É uma canção tão gostosa que fala do início, do fim mas também de hoje, de mim e do meu propósito na história, que é ser mais um daqueles que o louvam de eternidade a eternidade. Em resumo a canção fala da glória indizível e da minha contribuição minúscula no louvor Daquele que merece louvor e conquistou esse direito para mim.

We raise the never-ending song
The greatest song we’ve ever known
The song of angels, the hymn of ages
Holy is the Lord
We praise the never-ending One
The greatest joy we’ve ever known
All hail King Jesus, forever glorious
Holy is the Lord

Pulei muito ouvindo True North que tem um refrãozinho bem chiclete com uma letra simples e muito verdadeira: Não deixarei as circunstâncias, os medos, as falhas, as dúvidas serem minha bússola, Ele é meu norte.

Ressurrection Day é a clássica canção padrão Rend Collective: olhe que fabulosa e velha e óbvia verdade, vamos nos surpreender novamente com ela e celebrar? Sim, existe esse padrão. E essa canção atende aos critérios. Ela fala da alegria de todo recém convertido que devia ser a alegria de todos os cristãos: nós também morremos e também ressuscitamos. E como pessoas novíssimas somos uma folha limpa sem manchas ou dívidas. A música celebra o bendito dia da nossa ressurreição e lembra também da ressurreição dEle que tornou a nossa possível.

The good news is the good news
‘Cause you chose the rugged cross
The good news is the good news
‘Cause you rose up from the dust
Your gospel is the power
That is saving all of us
So, I can get up off the floor
Come on get up off the floor.

Com Weep With Me eu chorei. Essa canção quebra o astral do álbum mas não muda a essência. Ao ouvi-la tive algumas das minhas questões secretas expostas. Basicamente trata-se aqui da intimidade cheia de dúvidas e da vontade de crer, que suplica que Deus chore comigo e fique comigo. É uma canção bem paradoxal mas muito realista quando percebida enquanto oração: uma hora damos altas declarações de fidelidade ao Senhor seguidas de quebrantados e doloridos pedidos de fortalecimento da fé. Em mim surtiu um efeito semelhante a Take my hand precious Lord do Elvis Presley. Pelo jeito vai virar uma oração constante sempre que Deus aceitar cantiga.

Por último, a minha canção favorita desse álbum se chama No Outsiders. Essa canção tem uma força circunstancial incrível. Em tempos de crise migratória e de uma Europa apreensiva e dividida sobre como agir com refúgio para as pessoas que fogem das guerras, pestes e fomes, é significativo ver uma música nascida na Irlanda que lembra um dos  principais trunfos do cristianismo: não há estranhos, não há fronteiras.

O amor de Deus acolhe a todos e busca a todos e traz os que estavam distantes para perto. Confesso que já chorei muito nessa canção. Por que frequentemente nós cristãos esquecemos como tratar do estrangeiro e pior esquecemos que quando se trata do amor de Deus nós éramos estrangeiros e fomos trazidos para perto. O refrão é maravilhoso ao afirmar  que and there are no outsiders, to Your love. We are all welcome, there’s grace enough. A canção continua descrevendo a situação espiritual moral e até física dos cristãos e parece um refugiado sírio ou sudanês: alguém sem teto, cansado, pobre, com medo, faminto e náufrago. Acho que as palavras não fazem justiça a todos os sentimentos que essa canção me traz.

Recebi hoje o calendário do Médicos Sem Fronteiras e uma das fotos mostra um grupo de rapazes rindo em um barco, a explicação da foto revela que os rapazes tinham sido resgatados do Mar Mediterrâneo pois seu barco tinha naufragado. Aqueles sorrisos são de quem escapou da morte e achou um lugar onde pudessem estar seguros. No Outsiders me revela que todo cristão deve conhecer esse sentimento. É isso que os cristãos são: imigrantes fugindo da própria vida e encontrando refúgio, casa, um pai e um reino que não tem fronteiras.

Eu poderia continuar falando sem parar aqui, pois o que não falta é impressão das canções: seja a feliz e empolgante Marching On com a participação do hypado Hillsong Young & Free; seja Nailed To The Cross e sua alusão à cruz em que nós também fomos pregados; seja Yahweh que celebra o nome e as características dEle; seja Life is beautiful que celebra (com uma melodia super festiva) as maravilhas da criação, a maravilha que é o Criador, e se compromete a não desperdiçar o dia que o Senhor deu pois é dádiva. E claro temos Rescuer, a canção que carrega o álbum nas costas, mas já a conhecíamos antes do álbum ser lançado. Rescuer é maravilhosa, reafirma a Boa Notícia: Ele é nosso Salvador, celebremos.

(Inclusive o clipe de Rescuer é maravilhoso demais. Mais um clipe em que eu queria morar dentro).

Em resumo, foi e está sendo um prazer ouvir Good News. Rend Collective foi muito feliz em reafirmar as velhas notícias que são novas noticias, e mais que isso, são boas notícias. E vocês o que acharam?

Sobre o Autor

uma canção que o Bilbo não concluiu.

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