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A banda Crombie deixa de lado as cores de um dia ensolarado e mergulha de cabeça no cinza da cidade.

Quando vi a capa de “Como Diz o Outro”, senti: vem algo bem diferente por aí. A primeira reação foi a de desconstrução. Aquela imagem de um Crombie leve e otimista com um “MPB praiano” começou a se dissolver numa introspecção urbana e humana.

Enquanto ouvia novamente os discos anteriores, me veio uma associação curiosa. A discografia da banda parece contar uma história. Ao passo que “Por Enquanto” (2008) começa com o som de malas sendo preparadas com todo aquele espírito aventureiro/descobridor, “Casa Amarela” (2011) parece chegar ao destino da viagem com contemplações e reflexões sobre a vida e os amigos – fato culminado no ao vivo de 2014 que agora soa como o fechamento de um ciclo. Já “Como Diz o Outro” (2015), se apresenta como um retorno, uma volta à realidade. A música “Na Superfície” mostra muito bem isso.

A sonoridade ficou mais densa. A apreensão das letras, mais demorada. É preciso ouvir o disco mais de uma vez para ir digerindo a mensagem (algo semelhante ocorreu ao ouvir “Sobre o Mesmo Chão”, do Palavrantiga).

Em “Vai Saber Por Que”, é mostrado mais uma vez  o lado reflexivo da banda. No entanto, seu refrão sopra esperança em um urbano frenético. Essa faixa também me mostrou outra coisa, a mensagem de fé está ainda mais diluída no lirismo. Enquanto nos outros discos as associações eram mais fáceis de notar, nesse, o Evangelho se apresenta de maneira integral ao cotidiano, a vivência diária.

Isso ganha força com a participação de Jair Oliveira em “Insatisfação”. Sem distinções entre santo e secular, a banda entrega mais uma faixa encantadora (e essencialmente urbana) onde fala de situações corriqueiras do corre-corre da cidade grande.

“Cores” traz a alegria de outros discos. Bem sobre as coisas do alto. Bem sobre a limitação da nossa mente e a soberania dEle. Uma das preferidas.

Outro convidado é a graciosa trupe Simonami. Em “Fuga”, as fragilidades de dentro e de fora são o destaque. Com um poética bem delicada, a canção ganha dramaticidade com as encantadoras vozes da Lay e Lilian.

“De Novo” é sobre recomeços. Sobre tentativa e erro. Sobre misericórdia e graça. Convida o ouvinte a respirar, tomar um fôlego em meio às turbulências da vida e seguir em frente na “longa jornada”.

Os baixos de “Da Rotina” são encantadores. Disparada é a melhor canção do disco para mim. Envolvente e sóbria, ela te joga como um posicionamento em frente ao ritmo urbano que quer nos engolir. Nos convida a viver cada segundo, a enxergá-lo como precioso. O novo se manifesta na rotina e enxergar isso é um baita desafio.




 

“Impasse” traz Vinícius Calderoni falando sobre a crise no relacionamento. Nem sempre as flores reinam e o espinhos brotam ferindo. Nesse impasse à dois, cabe relembrar o que os enlaçam. Vale olhar para o que já se foi plantado e no que se pode colher com paciência, amor e valsa.

Para encerrar vem a sugestiva “Sobre a Saudade” reunindo todos os sentimentos em uma salada poética que precisa ser apreciada com calma.

De forma geral, em “Como Diz o Outro”, o Crombie se reinventa e se expande. Mostra que ainda há muito o que refletir e poetizar. Valeu a pena esperar. Vida longa, meninos!

 E você, o que achou? Conta aí. 🙂