Guarujá, 13 de fevereiro de 2017

 

Querido Diário, como vai?

O clima aqui pela cidade está demasiadamente louco. Ora temos pancadas de chuva, ora temos pancadas de sol. Não sei definir ao certo se temos um verão em seus moldes corretos. Alguns dias insistem em amanhecerem e perdurarem nublados no seu decorrer, mas eu tenho que admitir: gosto quando existem esses pontos de dispersão no plano cartesiano das estações. Você nunca sabe o que esperar e, talvez em meio à um resultado não satisfatório, alguns picos ou momentos podem te deixar alegre. Ou vice e versa.

Por isso esse motivo, Diário, estou filosofando para você sobre as estações porque acabo de ter uma consideração final sobre aquela banda que eu gosto tanto. Sabe, né? O Colony House. Não lembra? Vou ter que refrescar sua memória então.

Eles lançaram um disco recentemente, que deram por nome “Only The Lonely”, o qual teve um burburinho imenso em diversas redes sociais para ser lançado. Enfim, pra encurtar meu desabafo, esse novo álbum é uma coisa diferente, vários pontos sem que eu conseguisse traçar uma reta, sem que eu conseguisse ao menos escolher representações para as variáveis x,y, sem linearidade nenhuma. Por isso o gráfico de dispersão. Não, não estou patrocinando o Excel, Diário.

Começando com Cannot Do This Alone, aquela introdução seca que lembra muito canções do último disco, o “When I Was Younger”. Na verdade, essa primeira música poderia ser muito bem incorporada ao trabalho anterior. Ela não traz nada de muito novo, mas aceitável aos moldes colonyenses. Melodia interessante, letra reflexiva. Aliás, uma letra bem subjetiva ao título do novo álbum. O que seria isso, Diário?

1234. Título engraçado. Início engraçado também, com todo aquele estalar de dedos e assobios. Ótima junção de bateria com guitarra. Pegada querendo pisar no ambiente sessentista, mas trazendo um frescor alternativo no refrão. Fica melhor depois da décima escutada. “5,6 C’mon Let’s talk about it, 7,8 Don’t hesitate.”

Não vou falar muito sobre as duas próximas não, meu amigo. Elas já tinham sido lançadas anteriormente como singles, né? Lonely é um tributo descarado à The Black Keys, impossível não sentir a referência. Mas eu estava certo, Diário. Acho que o conjunto do trabalho em si quer trazer alguma mensagem sobre o quão as pessoas se sentem sozinhas, ou o quanto querem demonstrar que sozinhas não conseguem ser sucedidas em seja lá qual âmbito for. Baixo lindo.

Bingo. A quarta faixa é You and I, que fala sobre o relacionamento conturbado sobre irmãos. Que coisa fantástica de se ver, vou até mandar uma mensagem pro meu irmão mais velho que é casado agora. Adoro os efeitos da guitarra, adoro o backing, adoro as quebradas de ritmo no meio da canção. É a Caught Me Be Surprise da vez, que por incrível que pareça é também a quarta faixa. Coincidência? Acho que não. Me desculpa, falei demais sobre essas duas.

P-A-R-A T-U-D-O! Que clima maravilhoso alá U2 estou ouvindo aqui? O nome do cd é The Joshua Tree por acaso? The Unforgettable Fire? War? Estou achando até que o Caleb tentou imitar o Bono em algumas partes de Where Your Father’s Been, não que eu não tenha gostado, claro. Que lírica rica temos aqui. Minha favorita sem pestanejar. Aquela música que tu deixas no repeat até a função se sentir violada.

Honrando o roadie felling, bebendo da fonte rock anos 60, aquela música para ouvir lendo Jack Kerouac, apresento novamente You Know It. Clipe legal, bateria marcante, mas nada muito a declarar, pois já conhecíamos também. Não sei se foi um tiro certo ser lançada como primeiro single, mas de alguma forma ela funciona. Ao vivo ela é bem mais enérgica e cativante.

Agora os problemas começam, Di. Temos um combo que carinhosamente chamarei de “Quarteto Cansástico” (uma singela homenagem ao Quarteto Fantástico), onde não tenho nada a contra, nem a favor, mas a presença de certa forma é irrelevante. Refiro-me às canções.

Homenageando o Sr. Fantástico, que usou os seus poderes elásticos e foi lá no disco anterior cutucar a 2:20, temos uma 3:20. Preciso lembra-los para não lançar a 4:20 no próximo disco. Tudo bem, eu sei que a letra é boa, eu sei que ela segue à risca a proposta lírica da obra, ela soa indie e alternativa como gostamos de ver o Colony House, eu sei que ela tem um riff bacanoso no “crescendo through” da canção, mas não consigo enxergar ela como uma faixa marcante. Uma pena mesmo.

Was It Me veio para representar a Mulher Invisível. O tipo de canção que está ali apenas para preencher a playlist, passando desapercebida, sendo o tipo de música apagada. Eu aprendi a pular ela com maestria. Tá, de vez em quando a Mulher Invisível aparece, eu sei. Talvez os efeitos na voz sejam esses momentos, ou a atmosfera meio vintage que ela tenta entregar, mas não. Surfista Prateado deve ter curtido.

O Coisa. This Road. Que Coisa?! Estão na moda esses samples curtos em algum momento dos álbuns, sabemos disso. Em “When I Was Younger” teve um que sucedia Second Guessing Games. “Colors”, último lançamento do House Of Heroes (quero nem lembrar desse disco) já inicia as faixam com um. Mas This Road foi uma distorção de barulhos sem nenhum fundamento.

I Want It All é o Johnny da turma logo quando ganhas os poderes. É uma faixa que tenta entrar em ‘em chamas’, mas não consegue. Me simpatizei um pouco com a melodia e só. Nada mais a declarar, querido Diário.

As coisas melhoram muito com Follow Me Down que dá o start no que eu chamo de início do fim de disco. Apelidei ela de Cannot Do This Alone 2.0, pois segue a mesma proposta literária de interpretação da letra e, em contrapartida, bem alinhada com a mensagem do álbum. Curti muito a linearidade dos instrumentos, todos bem encaixados no tempo certo, trazendo um ambiente sonoro único. Bom, eu fiquei imaginando um mashup com Don’t Let Me Down do The Chainsmokers. Ridículo eu sei, mas Pitch Perfect 3 vem aí. (Os direitos autorais são meus).

Remembered For está lado a lado com Where Your Father’s Been, sendo uma das canções mais espirituosas do trabalho. A mensagem é altamente inspiradora, soando muito divertida no refrão, tipo de música facílima de aprender a cantar, com um mini riff despretensioso e leve, com uma breve reflexão no fim. Nota 9 de 10 para essa aqui, meu caro confessionário.

Chegamos ao fim com This Beautiful Life, Diário. Ela é linda, introspectiva e bem diferentes das baladas que já vimos o Colony House fazer. Talvez seja esse o problema que encontrei nela. Pra mim não foi impactante como Won’t Give Up ou Glorious que arrancavam lágrimas em qualquer escutada. E também enxerguei isso como um defeito: a falta de uma ou duas baladas que sabemos que banda tem capacidade de sobra para fazer.

Em suma é isso, Diário. “Only The Lonely” teve algumas desavenças com meu gosto pessoal, mas tem seus ótimos momentos que com certeza devem ser levados em consideração pra qualquer um que venha escutar. Quero muito que eles lancem mais alguns clipes, pois estou achando muito boa as produções que eles têm feito desde Waiting for My Time to Come.

Até a próxima audição, meu chapa.

Sobre o Autor

John Perkins disse certo: O amor é a luta final.

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