Petrolina, 05 de janeiro de 2017

querido diário,

sou amadora no AM e gostaria de falar sobre um artista que se declarada amador e esteve presente nas minhas playlist de todo 2016: Guilherme Scardini <3. Será que as pessoas o conhecem?

 

Conheci o Guilherme por acaso no youtube enquanto procurava uma música bem triste do Simonami e encontrei a linda, leve e maravilhosa “Eu vim do céu”. Foi paixão a primeira audição. Guilherme reunia tudo que acho importante num artista: sensibilidade, graça, timbre de voz delicioso e senso poético.

Depois disso, o Guilherme foi me cercando por todos os lados, um verso aqui e outro acolá. Um amigo falava no twitter, uma foto com os versos dele aparecia no instagram e sem eu perceber ele foi fazendo parte do painel poético da minha vida em 2016. Então, em maio, fomos apresentados oficialmente. Uma amiga me falou: ele tem um EP que é maravilhoso demais. Me indicou o link, que é esse aqui e desde então, nos momentos mais bonitos do meu dia, em geral de contemplação, as músicas do Guilherme vem na cabeça (prova disso é só minhas fotos no instagram que são sempre legendadas das músicas dele).

 

Desde que ouvi o EP “Varandeiro”, não consegui mais parar de ouvir. Já está na minha lista dos melhores no ano ao lado de nomes de peso e de gratas surpresas. Sensação parecida só tive com Crombie. Eu não sei isso de falar tecnicamente da qualidade das músicas ou porque estou fazendo a indicação no AM, sei que as canções de Scardini apontam para uma poesia maior que há no mundo, falam das miudezas do cotidiano.

Em “Eu vim do céu”, somos apresentadas ao processo de encarnação de Cristo de um ponto de vista bem simples e cheio de maravilhosos lugares-comum. Em poucas linhas ele define tudo: “vim do maior universo/ da minha glória me despeço/ eu vim trazer as boas novas/ fazer que um dia você possa lá morar”.

Em “Menina” ganhamos conselhos sobre como encarar “os desencantos com a vida e os seus carnavais”, é uma sutil declaração de esperança e de aceitar o movimento fluido da vida.

“Fim de tarde” é uma das minhas favoritas, já começa nos convidado a pegar uma xícara de café e falar da vida. Uma pergunta bem simples e profunda: “Como foi que o dia te tratou?”. A música é um encontro, um bom encontro. Traz uma série de memórias de momentos e pessoas que nos fazem bem.

“Dona Maria” é outra das favoritas. Uma música sobre cuidado. Uma relação mãe e filho naqueles pequenos detalhes. Pequenos e preciosos conselhos e preocupações que fazem parte de uma relação marcada de amor. Eu gosto muito dessa canção. Me lembra minha mãe e também lembra as crianças com quem eu lido. Gosto especialmente do final que diz assim: “sabe das dores do amor/ e sabe que tem que deixar/ nas mãos do nosso Senhor/ há tanto pra viver, menino.

“O absurdo” é uma canção de defesa da fé e que jeito lindo de defender a fé! Em suma ele levanta importantes questões para um amigo meio materialista, e depois afirma: prefiro o absurdo, o incomparável absurdo da cruz.

Em “Sobre o movimento” entramos numa vibe meio praia. Eu fico sempre com a sensação de estar em frente ao mar ouvindo ondas indo e vindo. A melodia e a letra apontam pra essa sensação.

O EP deixa um gostinho de “como assim já acabou?” Pra resolver a situação saí a procura de outras histórias no youtube.

Para minha sorte o Guilherme compartilhou outro projeto tão pequeno minimalista e bacana quanto o primeiro e assim ganhamos Feira! Eu encontrei apenas no youtuber, talvez ele esteja disponível em outras plataformas. O fato é que Feira trouxe mais canções pra eu amar e encher a memória do celular!

A música tema  é pra gente balançar um pouquinho mais. Uma canção mais rápida e  que mostra a capacidade fantástica do Guilherme de pegar elementos do dia a dia e deixá-lo com refinamento poético. Mais uma historinha: um menino e talvez novamente sua mãe enfrentando a vida. “Vamo pra frente pra gente se embrenhar pela via /O sol e o suor na mesa dos meus/ Acorda antes do dia clarear, meu menino,/ E vamo encontrar no dia/ A entrega de Deus/ A sorte de Deus/ O acorde de Deus/ Acorde pra ver.

Autódromo é a música com melodia mais diferente, no entanto a letra é a marca Scardini de canção: poesia do dia. Outra história de vida dura que precisa seguir em frente. Uma história de desapropriação, perder casa, referências e tudo mais. Essa música me lembrou muito as músicas do Chico Buarque com  uma conotação de crítica social tipo Gente Humilde e Construção. No dado momento a música diz: A vida deixa a gente tão pra trás. E antes disso ele descreve:

“Seu moço, tanto faz.
Daqui pra frente o que
Resta à gente é acostumar
Seu moço, era melhor
O nosso canto, humilde um tanto,
Mas nosso lar”

 

Nisso temos outras músicas lindas demais pra gente ouvir bem sossegado: Agosto (maravilhosa, favoritíssima. Uma necessária canção sobre a saudade); , Conversa (mais uma preciosidade) e Carioca (que ouvi hoje e já viciei).Em suma, o Guilherme é uma preciosidade, faz música como quem faz bom café. É puxar a cadeira as seis da tarde, colocá-lo pra tocar e pensar sobre a vida. Scardini é um discreto cronista do cotidiano, que sabe tornar isso poesia e colocar em acordes. Um amador, observador, poeta, registrando tudo. A mim resta aproveitar esse excesso minimalista de poesia. É coisa de Deus!

 

P.s: as fotos são da página do Scardini no facebook

 

Sobre o Autor

uma canção que o Bilbo não concluiu.

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